O lixo como um desafio para a restauração 2k52m

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A restauração é essencial para a recuperação de ecossistemas, pois possibilita o retorno da vegetação e fauna, além de trazer benefícios para os moradores da região. 106h2a

  • Lidar com o lixo foi um dos grandes desafios do projeto de restauração executado pela Ecoa na Área de Proteção Ambiental (APA) Baía Negra, no Pantanal de Ladário (MS)
  • Por quase duas décadas, uma área dentro da APA foi utilizada como lixão a céu aberto.
  • Durante quatro meses, moradores da APA foram contratados para o serviço e retiraram aproximadamente 200 toneladas de lixo do local.  
  • Após a retirada do lixo, foi possível iniciar de recuperação da área, inclusive com análise de solo, limpeza e plantio de mudas nativas.

 

Após o descarte do lixo, poucas vezes paramos para refletir qual será o destino final daquele resíduo. Muitas vezes, o material pode parar em locais inadequados, onde gera uma série de problemas de longo prazo e contribui para a degradação ambiental. 

O descarte inapropriado do lixo é um dos problemas vivenciados na Área de Proteção Ambiental (APA) Baía Negra, no Pantanal de Ladário (MS). Por quase duas décadas, uma área dentro da APA foi utilizada como lixão a céu aberto. Ali, eram descartados resíduos de cidades próximas, depositados tanto por moradores quanto por órgãos públicos. 

O descarte de lixo por parte das Prefeituras foi encerrado em 2011, mas os impactos gerados pelo lixo perduram com o ar do tempo. Há materiais, aliás, que podem levar centenas de anos para se decompor.  

O problema do lixo foi um dos principais desafios do projeto ‘Restauração Estratégica e Participativa no Pantanal’, executado pela Ecoa na APA Baía Negra. A coordenação técnica do projeto é feita por Gustavo Menezes, engenheiro florestal e especialista em Ciências Ambientais. 

Gustavo Menezes explicando os para o plantio durante o mutirão de plantio realizado na APA Baía Negra como parte do projeto Restauração estratégica e participativa no Pantanal: APA Baía Negra. Foto por Victor Sanches

Segundo o engenheiro, o descarte indevido de lixo pode gerar uma série de alterações químicas e físicas, muitas vezes irreversíveis.

“Pode ser possível recuperar, porém restaurar já é muito mais difícil. Vai depender muito dos resíduos e do tempo. O mais plausível de acontecer é realizar a revegetação do local (recuperação), porém sem garantias do retorno das condições ambientais iniciais (restauração)”.  

No projeto, as áreas a serem restauradas foram divididas em sítios, sendo que o lixão foi encontrado soterrado em um deles, mesma região que sofreu com a degradação provocada pela extração de minério. A mineração na região foi encerrada em 2011 e durou quase quatro décadas, gerando um cenário extremamente degradado, com completa retirada do solo do local.

Leia também: Na década da Restauração da ONU, Ecoa executa dois projetos de restauração no Pantanal 4r5g72

Além da complexidade no processo de restauração de um local explorado para retirada de minério, havia ainda o problema do lixo.  

Para lidar com esse problema, a equipe técnica do projeto decidiu que primeiro seria necessário arregaçar as mangas e partir para a coleta manual dos resíduos mais superficiais. Durante quatro meses, de novembro de 2021 a janeiro de 2022, sete moradores da APA foram contratados para o serviço e receberam todos os equipamentos de segurança necessários. Neste período, foram retirados do local aproximadamente 200 toneladas de lixo.  A Prefeitura de Ladário deu apoio na retirada de parte desse material, sendo que a área foi cercada para impedir o o e despejo de novos entulhos por parte de carroceiros que se acostumaram com a prática.

Vergínia Paz, uma das contratadas para a coleta de lixo, é também líder de um dos esquadrões da brigada voluntária de combate a incêndios da APA, formada a partir da articulação da Ecoa. Segundo Vergínia, foram retirados diversos tipos de materiais, como garrafas, vidro e pneus. Mas o que mais a assustou foi encontrar lixo hospitalar. 

A gente chegava a tirar 30 sacos de lixo (de 100 litros) por dia. Achamos muito vidro, garrafa antiga de refrigerante, até brinquedo antigo. Mas o mais preocupante foi achar material hospitalar, até vidro lacrado e agulha. Mesmo a gente trabalhando com segurança, usando luva e outros equipamentos, foi assustador”.  

Vergínia Paz, brigadista e uma das moradoras que trabalharam na coleta do lixo (Foto: Victor Hugo Sanches)

Após a retirada do lixo, foi iniciado o plantio de mudas nativas, que são fundamentais para recuperação das áreas degradadas. As plantas permitem sombreamento e serviços ecossistêmicos como polinização. Além disso, conforme forem crescendo, fazem ciclagem de nutrientes no solo e permitem melhorias da condição física do solo, como diminuição da compactação e aumento de umidade. 

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A necessidade de um olhar cuidadoso para o descarte inadequado de resíduos foi uma importante lição que ficou para Vergínia. Como brigadista, ela também atua na importante missão de promover educação ambiental, o que inclui falar sobre o problema do lixo. O monitoramento e promoção de ações educativas são fundamentais na região, já que nos arredores da APA ainda é recorrente o descarte indevido de entulhos.  

“A gente chegou a fazer blitz educativa parando as pessoas que vinham pescar, distribuindo sacola, adesivo no carro e orientando sobre o lixo. É comum a gente brigadista ar a orientação de que podem vir, mas que precisa catar o lixo e levar embora para deixar em algum local de coleta. Isso também é cuidar do nosso lugar e respeitar nossa natureza”. 

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Restauração Estratégica e Participativa no Pantanal: Área de Proteção Ambiental 63824

O projeto acontece na APA Baía Negra, em Ladário (MS). Promove ações de combate a processos de degradação ambiental em várias frentes de atuação. A iniciativa é coordenada pela Ecoa com o apoio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e conta com o envolvimento de moradores da região, órgãos públicos e pesquisadores para lidar com tais desafios.  

Mas por que restaurar a Área de Proteção Ambiental Baía Negra? A unidade de conservação sofreu deveras com os fortes incêndios dos últimos anos, potencializados pela seca que atinge a região pantaneira desde 2019. Segundo o Laboratório De Aplicações De Satélites Ambientais (LASA – UFRJ), em 2020, mais de 60% da área total da APA foi devastada pelo fogo. Há, portanto, grandes áreas degradadas pela ação do fogo que necessitam de restauração. 

Entre as ações do projeto, está o controle da Leucena. Trata-se de uma planta invasora que impede o crescimento de outras espécies e dominam grandes espaços da APA, o que enfraquece a biodiversidade local. Uma das propostas da iniciativa é a formação de uma brigada de controle da Leucena com moradores da região, que seriam responsáveis por monitorar e controlar a expansão da espécie. 

Outro desafio é restaurar áreas completamente degradadas pela mineração. São aproximadamente 11 hectares que foram minerados por quatro décadas, atividade finalizada somente em 2010. Na região, o objetivo do projeto é repor o solo para que, futuramente, seja possível a restauração das espécies nativas. Além disso, a região foi utilizada como lixão por parte de órgãos públicos e da população de cidades próximas. Para coleta superficial do lixo, foram realizados mutirões de limpeza.  

As ações mais recentes do projeto incluíram o plantio de mudas nativas, uma das etapas do processo de restauração. 

Alíria Aristides 5h1i38

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