/

Avanço do agronegócio no Matopiba puxa devastação do Cerrado 716q14

6 minutos de leitura
Agricultura em área desmatada no Piauí (Foto: Panoramio/Creative Commons)

Folha  de S. Paulo 3a5r1p

Agricultura em área desmatada no Piauí (Foto: Panoramio/Creative Commons)
Agricultura em área desmatada no Piauí (Foto: Panoramio/Creative Commons)

Fala-se muito em Amazônia, mas a vegetação nativa mais ameaçada pela expansão do agronegócio no país, hoje, é o Cerrado. A fronteira agrícola mais agressiva está no Matopiba, onde o desmatamento cresceu 61,6%.”

O avanço da soja, do milho e do algodão nos Estados da região (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), entre 2000 e 2007, se fazia à taxa de 1.114 km² por ano. No período seguinte, de 2007 a 2014, ela subiu para 1.800 km²/ano (área 20% maior que a do município de São Paulo).

É bem diversa a dinâmica nos outros oito Estados com áreas de cerrado (DF, GO, MG, MS, MT, PR, RO e SP). Nos primeiros sete anos, a agricultura tomou 931 km² anuais da savana brasileira, ante 333 km²/ano nos outros sete, uma queda de 64,2% na taxa de devastação.

Os dados constam do relatório “Análise Geoespacial da Dinâmica das Culturas Anuais no Biomas Cerrado”, obtido pela Folha. O levantamento foi realizado pela empresa Agrosatélite, formada por ex-pesquisadores do inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais).

O DESMATAMENTO NO CERRADO

“A gente quer que o agronegócio discuta esses dados com os preservacionistas”, afirma Bernardo Rudorff, coordenador do estudo. “Faz sentido uma moratório no Cerrado?”.

O pesquisador se refere a uma das hipóteses que o trabalho abordou – se estaria ocorrendo um “vazamento” do desmate para o Cerrado a partir da Amazônia, onde vigora uma restrição para a venda de soja produzida em áreas devastadas depois de 2007. Dos 30 mil km² plantados com soja na região após a moratória, só 500 km² foram em áreas novas.

A resposta de Rudorff sobre a hipótese de vazamento é curta: “Não”.

Ele pondera que, embora tenha decrescido a taxa de desmatamento na fronteira agrícola mais tradicional do Cerrado, grosso modo o Centro-Oeste, entre os dois períodos – pré e pós-moratória -, a expansão da área cultivada com grãos cresceu, ando de 4.243 km²/ano para 7.304 km²/ano (avanço de 72%).

A razão desse aparente paradoxo é que, na fronteira mais estabelecida, a agricultura a a ocupar áreas abertas anteriormente para a pecuária, atividade menos rentável. No Matopiba ocorre o inverso: com muitas terras baratas, soja, milho e algodão avançam sobre áreas de vegetação nativa.

É prudente ressalvar que só 171,4 mil km² de savana foram perdidos no Matopiba, considerando todos os usos da terra (grãos, pastagens, cana, etc.). Em contraste, outros 713,6 mil km² sumiram noutras partes do Cerrado.

IMPACTO DO AGRONEGÓCIO

cerrado-desmatamento
Taxa de desmatamento causado por soja, milho e algodão no bioma Cerrado, em km²/ano

O estudo também mapeou as áreas mais aptas a dar bom rendimento para essas culturas em toda a área de Cerrado, com base em dados de precipitação, temperatura, relevo e altitude. Descobriu-se que há pelo menos 200 mil km² – território do tamanho do Paraná – de terras desmatadas e com aptidão agrícola.

“No Matopiba, o estoque de terras abertas com aptidão é baixo, portanto a expansão continuará ocorrendo sobre vegetação nativa, devido ao baixo preço de terras, caso não sejam criadas novas restrições de contenção do desmatamento”, avalia Rudorff.

“Já nos outros Estados do Cerrado, o estoque de terras abertas é grande e a soja vai poder continuar se expandindo com a intensificação da pecuária, que vai liberar terras aptas para agricultura.”

Apesar do risco de devastação continuada, o Cerrado não teve meta específica de redução do desmatamento incluída no compromisso do governo brasileiro para a Conferência do Clima em Paris. Só se fala de Amazônia.

Além disso, as áreas protegidas (unidades de conservação de terras indígenas) somam apenas 8,2% no Cerrado, diante de 43,9% na Amazônia, como assinalou em artigo (http://www.observatoriodoclima.eco.br/politica-de-clima-negligencia-o-cerrado-mais-uma-vez/) Mercedes Bustamante: “É estarrecedor que esforços de igual magnitude não estejam em curso para conservação e gestão da savana mais biodiversa do planeta”, escreveu a pesquisadora da UnB.

Alessandra Marimon 1r4s

Deixe uma resposta Cancelar resposta 3v1h5y

Your email address will not be published.

Mais recente de Blog s1741

Jorcy Neves hoje está inscrito na história de Campo Grande (MS), pois, graças à sua liderança à frente da Associação de Moradores do Campo Belo, foi criado o Parque Estadual das Matas do Segredo. São 177,88 hectares, com inúmeras nascentes que formam o Córrego Segredo, que atravessa a cidade de norte a sul. Até aquele momento (ano 2000), a área era destinada à construção de casas. Convencemos o governador Zeca, à época, a criar o Parque – Decreto nº 9.935, de 5 de junho de 2000. Neste 5 de junho, 25 anos depois, todas as homenagens a Jorcy. (Alcides Faria) 2gr6e

Dia Mundial do Meio Ambiente: celebrar as conquistas e enfrentar desafios 6wd2m

Chegamos ao Dia Mundial do Meio Ambiente com conquistas que merecem ser celebradas. No Pantanal e

Um lugar único no mundo: Parque Nacional da Serra da Bodoquena 2m6d3n

Neste dia Mundial do Meio Ambiente, revisitamos uma publicação que celebra um dos últimos resquícios de

Proteção definitiva: RPPN garante futuro da cachoeira Água Branca 6s181n

Com a da portaria de criação, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Água Branca

André Nunes, diretor da Ecoa, representa o Pantanal em Fórum Global no Canadá 1mug

O diretor da Ecoa André Nunes e Luciana Vicente (coordenadores da Paisagem Modelo Pantanal) representaram o